21.3.06

Querida M.J.,

Como vai? Espero que toda essa urbanicidade não lhe cause tantos problemas como me causaram. Imagino que devem estar espalhando por aí que eu sou louco, não? O fato é que eu não suportava mais toda essa pressão na qual você quase encontra um sentido pra sua vida. Ou será que encontra? Você deveria vir qualquer dia por aqui. Pensei que eu demoraria a me adaptar, mas as pessoas da região são muito gentis e acolhedoras, com exceção de um ou outro. Novos hábitos, novos costumes... isso renova nossa alma. Falando nisso, escrevo à luz de lamparina. Aqui tem eletricidade, mas é corriqueiro haver quedas de energia. Algumas vezes a falta de luz dura dois ou três dias.
Estou escrevendo com muito cansaço. Já estou com as mãos calejadas de tanto trabalhar. O engraçado é que ver a mão assim está me dando uma nova idéia do que seja trabalho. Estou vendo o que estou fazendo ali, naquele momento, presenciando uma transformação. A relação da gente com a terra e com os outros homens muda por causa disso. A gente cria um vínculo muito forte com os dois. É totalmente diferente das teorias que eu costumava ler e "pôr em prática". Na roça, a gente trabalha da seguinte forma: em uma parte a gente cultiva feijão, na outra parte, cultiva milho. Com o passar do tempo, a gente inverte. São sete homens trabalhando comigo. Eles não entendem por que um "doutor" veio trabalhar aqui. Quem sabe um dia todos nós possamos entender?
Bem, termino por aqui esperando novamente notícias suas. Quero que me fale de todos, já estou ansioso.

Beijos.

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