Tanta coisa aconteceu nestes últimos dias que ainda nem sei o que pensar e fazer da vida. Desculpe-me pela demora na entrega da carta, tentei lhe escrever várias vezes mas sempre me faltaram palavras ou mesmo forças para continuar. Os últimos dias aqui não foram lá muito agradáveis, por isso não se anime muito em receber notícias minhas. Estou de mudança novamente. Vou largar a comunidade para viver sabe Deus onde. As coisas estão difíceis e não é por esperar a bondade nos outros, você sabe muito bem que não tenho essa visão romântica das mudanças. Tenho que reconhecer meu limite e ter autocrítica, tentar perceber o que deu errado, me afastar para poder ver de perto. Passaram-se três anos... muita coisa boa aconteceu, é verdade, mas tentar construir uma comunidade anarquista de verdade é muito difícil. De um tempo pra cá, o grupo sofreu muita mudança. Muita gente oportunista entrou e isso tem criado situações constrangedoras entre a gente. Não é só a dificuldade de relacionamento interna que tem se tornado um obstáculo, mas o grupo tem sido mal-falado, além das chuvas constantes no começo do ano que destruíram boa parte da plantação que nos ajudava a sobreviver aqui. E é no momento de dificuldade que a gente vê quem é quem... Algumas pessoas se entristeceram com minha partida, mas ela se faz necessária. Você me disse, na última carta, que eu precisava ser líder e estratégico. Eu já havia tentado, mas acho que não fui muito bem. Confesso que tinha muito medo de assumir uma liderança pois não gosto de autoridades, mesmo que simbólicas. Mas enquanto me esforçava para colocar em prática minhas idéias, o tempo se encarregou de mudar minha visão e me fez perceber o óbvio: cada pessoa é diferente. Aceitar minha diferença em relação ao grupo foi o que mais me doeu. Não sirvo mais pra esse lugar. Não acrescento em nada, sou apenas um peso. Temos objetivos diferentes e é por isso que optei por minha saída. Desculpe-me pela confusão neste texto... eu mesmo ainda estou muito confuso e incerto com meu futuro.
Eu ainda estou com muita vontade de lhe visitar pois a saudade é grande e a preocupação com sua saúde a torna ainda maior. Mas, por tudo que aconteceu comigo aqui e por ficar mais tranquilo ao saber que você está melhor, acaterei sua proibição. Sorte sua. Depois que resolver a minha vida vou dar um pulo na sua casa pra lhe visitar para ver com os meus próprios olhos que você continua linda, pois não acredito nem um pouco na idéia de que você não tem condições de seduzir esses enfermeiros garotões.
Quanto ao filme que você falou, eu ainda não o vi. Mas, com um tema parecido, já li "Johnny vai à guerra" e fiquei imaginando como seria ficar preso em si mesmo. Agoniante, mas muito bom (o livro, é claro).
Tenho que ir. Há muita coisa para arrumar e muitas decisões para tomar.
Pode escrever para cá, ainda. Só partirei depois que receber uma nova carta sua. Depois lhe escreverei sabe-se lá de onde.
Beijos afetuosos, minha "sádica" e linda amiga.
M.P.
2.9.09
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário